UNIVERSIDADE SÊNIOR SANT´ANNA

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CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL PARA A TERCEIRA IDADE

terça-feira, 21 de junho de 2011

A Arte de Bem Viver

Que lingua é essa?

Fico me perguntando, por exemplo, de onde é que as pessoas tiraram a moda do colocar, que serve para tudo. Até galinha já está colocando ovo. Quando alguém, numa reunião, pede licença para fazer uma colocação, fico com vontade de remetê-lo ao banheiro mais próximo, para que possa colocar. Nos palácios de Brasilia, passam o dia fazendo colocações. O pior é que nas escolas e faculdades também. Esse abominável colocar socorre a pobreza vocabular dos que não sabem dizer, nem pôr, nem botar, nem expor, nem explicar, nem ponderar.
Depois do reinado do a nível de, que hoje já provoca sorrisos pelo seu ridículo, veio o enquanto. Quando uma militante grita, no microfone: Eu, enquanto mulher; a imagino prestes a uma cirurgia para mudança de sexo. Pior ainda é o brasileiro enquanto povo. Alguém quer traduzir essa língua para mim?
Depois que alguém importou das aulas de matemática o em função de, os repórteres de rádio acharam bonito e aboliram o singelo por causa de. Cada vez que ouço que alguém morreu em função de uma bala perdida, lembro do meu professor de matemática, demonstrando um teorema. Coitado por causa de!
Por ser simples e claro, ainda passou a ser atacado pelo por conta de. Abro o jornal e leio que um senador teve intoxicação por conta de um jantar de que participou. Deve ser pãodurismo. Se é por conta é porque ele pagou o jantar a contragosto. Alguém, nas faculdades de jornalismo, por favor, quer ressuscitar as regrinhas básicas da clareza e da simplicidade na escrita? Nessas faculdades, por certo ainda se aprende que as noticias mais quentes são de fatos que acontecem. Ou seja, o que é imprevisto, surpreendente, fortuito. Uma reunião que está marcada, não acontece. Ela se realiza. A reunião acontece só quando as pessoas se encontraram por acaso e improvisaram uma reunião.
E no fim dessas maltraçadas, quero lembrar do mais novo modismo: final, esse adjetivo que começou a ser usado como substantivo. Em vez de fim de semana, virou final de semana. Se existe final de semana, queiram, por favor, chamar segunda feira de inicial de semana. Mas se segunda feira é início de semana, então apaguem o final, em homenagem aos próprios neurônios. Se existe um final de filme, tem que haver um inicial, não é mesmo? Mas se houver começo, então tem que haver um fim. Essa história de colocar em lugar de pôr e final no lugar de fim, deve ser lobby de fábricas de papel e tinta gráfica.
Enfim, resta uma esperança: a pobreza não criativa dos modismos e chavões é passageira.
(Alexandre Garcia-Jornalista da TV Globo)

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