UNIVERSIDADE SÊNIOR SANT´ANNA

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CURSO DE EXTENSÃO CULTURAL PARA A TERCEIRA IDADE

terça-feira, 28 de junho de 2011

A Arte de Bem Viver

Eu estava no apartamento de um amigo, no Posto 6, e quando cheguei à janela via a lua: já havia nascido toda e subido um pouco sobre o horizonte marinho, avermelhada. Meu amigo fora lá dentro buscar alguma coisa e eu ficara ali, sozinho, naquela janela, presenciando a ascensão da lua cheia.
Havia certamente todos os ruidos da cidade lá embaixo, havia janelas acesas de apartamentos. mas a presença da lua fazia uma espécie de silêncio superior e de majestade plácida; era se Copacabana regressasse ao seu antigamente sem casas, talvez apenas alguma cabana de índio humilde entre cajueiros e pitangueiras e àrvores de mangue, talvez nem cabana de índio nenhum, índio não iria morar ali sem ter perto àgua doce. Mas dava essa impressão de coisa antiga, esse mistério remoto. Era acontecimento silencioso e solene pairando na noitinha e no tempo, alguma coisa que irmana o homem e o bicho, a árvore e a àgua- a lua...
Foi então que passou por mim a brisa da terra: e essa brisa que esbarrava em tantos ângulos de cimento para chegar até mim ainda tinha, apesar de tudo, um vago cheiro de folhas, um murmúrio de grilos distantes, um segredo de terra anoitecendo.
E pensei em uma pessoa: e sonhei que poderíamos estar juntos, vendo a ascensão da lua; deslembrados, inocentes, puros, na doçura da noitinha como dois bichos mansos vagamente surpreendidos e encantados perante o mistério e a beleza eterna da lua.
(Rubem Braga)

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